quarta-feira, 1 de julho de 2020

HISTÓRIA & NARRATIVAS CINEMATOGRÁFICAS: OFICINA DE USO NAS AULAS DE HISTÓRIA


Caros leitores, saudações! 


Sou o professor Roberto Abdala, doutor em História (UFMG) e mestre em Educação (UFMG). Leciono História há 40 anos – no Ensino Básico desde 1981 e no Ensino Superior desde 2001 e na História da UFG, desde 2011. Minha apresentação tem a intenção de demonstrar que não sou um aventureiro ou diletante como é frequente na Internet, mas um profissional.

Como o texto é voltado para alunas/os e professoras/es de História, mas, é divulgado em uma mídia popular e simples, optei por expor as ideias de forma mais ligeira e sem profundar muito em questões teóricas. Mas, ao contrário de muitos animadores de auditório que se autointitulam especialistas e até filósofos, o leitor sempre vai encontrar as referências teóricas e/ou empíricas que sustentam meus argumentos nos artigos e/ou livros que indico como referência. 


Boa leitura e bom trabalho!!!

INTRODUÇÃO


As relações entre cinema e história sempre intrigaram e instigaram os envolvidos com esses dois campos da cultura, desde o momento em que o fenômeno cinematográfico nasceu. Ao longo do século que se seguiu à invenção do cinema, não foram poucas as tentativas para apreender a extensão que estas relações alcançam. No entanto, até hoje não é possível dimensioná-las satisfatoriamente, tampouco avançou-se muito sobre em que consiste a magia da exibição de um filme para um público. Isso não significa que, no século do cinema, não se tenha especulado muito a respeito.

Os trabalhos sobre o tema são muito diversos, mas, em geral, tendem a privilegiar uma de suas dimensões, a fim de contornar dificuldades: investiga-se a linguagem, a produção, a recepção ou alguns desses elementos conjugados. Há também estudos sobre estilos, gêneros, diretores, teorias do cinema. Mesmo assim, o universo de dúvidas é desproporcionalmente maior do que o de certezas. O problema das relações entre história e cinema permanece, pois, como grande desfio na atualidade.

Nesse sentido, são necessários esclarecimentos prévios quanto às noções e argumentos que devem orientar o trabalho. Herdeira da tradição que toma o fenômeno “cinema” em viés antropológico, exploramos uma articulação das teses de distintos campos de conhecimento, tomando como referências diversas reflexões teóricas e pesquisas das ciências humanas – todos, no entanto, forjados segundo uma gênese teórica comum, como veremos. Alguns deslocamentos conceituais são também exigidos para que possamos nos aproximar desse que é um objeto tão importante, como complexo e instigante.

QUESTÕES PRELIMINARES



Algumas premissas contribuem para que possamos avançar nas análise das narrativas audiovisuais. A intenção é estabelecer uma relação mais “racional”, mais crítica com filmes e as demais formas de manifestação da cultura. A finalidade não é evitar uma submissão aos diversos “dispositivos” empregados pelas artes do espetáculo, mas reconhecê-los e refletir sobre eles. A diferença entre três situações de "audiência" – como pode ser chamada – é muito tênue.

A primeira, pode ser definida como ingênua e sugere que o analista se submeta, deliberadamente, aos apelos da obra para, somente depois, pensar a seu respeito, a partir de repertórios sobre o tema, prévios e/ou posteriores. Sendo a obra reconhecida como detendo méritos por especialistas, isso é quase uma exigência a ser cumprida. A submissão é, inclusive, importante para a análise. Nesse sentido, sempre sugiro aos meus alunos que não leiam qualquer análise sobre as obra antes de a estudarem somente com o repertório que já detém, para depois avançarem nas leituras.  

A segunda posição é a crítica, segundo a qual é imprescindível avaliar o máximo possível os dispositivos empregados pelos realizadores para que as obras alcancem seus objetivos em relação ao público. Nesse caso é preciso recorrer a uma assistência mais racional, marcada por um distanciamento analítico, atentando-se aos detalhes, à interpelação que as obras fazem aos repertórios prévios do público, aos clichês etc. – isso ficará mais claro em seguida. Nesse caso, é importante que se tenha um conhecimento prévio sobre o tema, conforme ele vem sendo abordado na sociedade e época, bem como buscar ampliar ao conhecimento posteriormente. A busca de informações incluem a leitura de resenhas sobre a obra em foco, todos os elementos da produção, especialmente roteiristas, atores etc.

A terceira é aquela mais sofisticada, e pode ser chamada especializada. A assistência requer escolhas temáticas bem definidas, a fim de que a análise obedeça a algumas diretrizes e não outras. Aqui a obra é que submete aos interesses dos analistas e deve ser orientada por uma “erudição” – um conhecimento bem construído sobre o tema a ser abordado, sobre todos os elementos da produção e da sociedade onde emergiu a obra – alimentado por questões bem colocadas – no sentido que questões que possam ser respondidas pela obra e que contribuam para destrinchá-la sob viés que interessa ao analista. Há a necessidade de um conhecimento mais sofisticado sobre arte, cinema e/outras formas de expressão análogas, como da linguagem cinematográfica também.

Há que se reconhecer que essas indicações são “didáticas” e não ocorrem, realmente, de forma distinta. Muito pelo contrário, elas são operadas nas diversas vezes em que assistimos as obras a fim de refletirmos sobre elasoutra exigência metodológica. Mas, é importante ter claro que uma narrativa audiovisual guarda uma infinidade monumental de aspectos a serem analisados, de forma que é, virtualmente, impossível abordar todos eles. Sob um ponto de vista metodológico, o melhor que se pode fazer é realizar uma descrição densa.

As possibilidades de abordagem antropológica de obras de arte, tomando-as como expressões próprias de uma determinada cultura e época, além de uma reflexão mais pontuada sobre como realizá-la podem ser encontradas na obra do antropólogo Clifford Geertz (1989),[1]  e do historiador Carlo Ginzburg[2].

Visto isso, vamos aos filmes.  




[2] GINZBURG, Carlo. Sinais. In: Mitos, Emblemas e Sinais. São Paulo: Cia das Letras, 1989, p.143-179.

LETRAMENTO AUDIOVISUAL



O primeiro passo numa caminhada visando a um “letramento audiovisual” é, certamente, assistir a filmes. Lógico, a seguir deve-se analisá-los, ler e estudar sobre eles, pensar sobre o que representaram na época em que foram produzidos, ou depois, nos momentos em que foram exibidos – no seu lançamento comercial, em casa ou na sala de aula.

Imprescindível para todos que pretendam lidar com “narrativas audiovisuais” [1] – pesquisador ou professor – assistir a filmes cria e amplia a cultura, o repertório cinematográfico – ou de narrativas audiovisuais – e também constrói ou aprimora conhecimentos sobre a linguagem audiovisual e suas possibilidades de uso. Assistir filmes frequentemente, não só entra na construção do processo de “letramento audiovisual”[2] - que deve ser compartilhado com os alunos - como deve ser considerada uma das mais estratégicas práticas de aprendizado empírico.

Análogo ao letramento literário, é interessante que o processo siga uma trajetória crescente de “especialização” – no sentido do reconhecimento de elementos característicos da arte cinematográfica. Assim como outras formas de ensino-aprendizagem, o letramento audiovisual consiste em trazer para campo do conhecimento objetivo, das ciências, práticas culturais que são, estritamente falando, habilidades largamente empregadas e característica da espécie humana.[3]   
O processo de “letramento audiovisual” pretende formar “leitores especializados” e consiste, basicamente, de iniciar com a exibição de obras seguidas de análises mais simples, avançando até chegar às mais complexas. A finalidade é fazer com que o analista e/ou o público sejam capazes de alcançar a fruição de obras canônicas – com o cuidado de evitar estabelecer hierarquias, sempre reféns das culturas “dominantes”, em todos os campos.  

Um dos elementos fundamentais desse letramento é aprender sobre a linguagem audiovisual/cinematográfica para ser capaz de analisá-la tema que trataremos adiante. Uma análise sumária das obras audiovisuais que circulam na cultura indica que seus dispositivos não parecem ter limites de criação ou invenção. A sugestão do filme A invenção de Hugo Cabret (SCORSESE, 2011) pretende contribuir para o reconhecimento desse maravilhoso traço na/da sétima arte, sua capacidade ilimitada criar e encantar.

O filme usa o recurso de 3D em um enredo que tem o período da história do cinema como contexto, exibindo, inclusive, sequências cinematográficas de filmes históricos, de maneira dramatizada-performativa. Além da estória do menino contada pela narrativa cinematográfica – muito sensível e humana, Scorsese também apresenta um personagem histórico – Méliès.  O filme ainda exibe algumas das obras de Méliès e representa o que deve ter sido o mundo da sétima arte nas primeiras décadas do século XX, destacando a magia que envolvia a produção cinematográfica na época.

São mostradas algumas das primeiras estratégias de construção de narrativas audiovisuais e algumas das prováveis práticas e invenções do primeiro cinema. Nos são apresentadas também as temáticas abordadas pelos filmes, as formas simples de enredo, montagem e o uso de alguns dispositivos cinematográficos mais básicos. O público pode vislumbrar os sonhos por trás das produções, o caráter amador e experimental dos diversos realizadores. Não seria exagero afirmar que a ideia de “magia” que o cinema significou nas primeiras décadas tona-se menos obscuro para os públicos do filme.   

Reunindo dramatização/performances sobre a vida no cinema das primeiras décadas e sequências cinematográficas históricas sob uma tecnologia de recente e sofisticada, o diretor nos brinda com uma obra de arte do cinema contemporâneo e nos faz testemunhar o quanto a sétima arte é dependente da linguagem.

Viva o cinema, enfim!




[1]A ideia de “narrativas visuais” e como foram engendradas, bem como uma historiografia sobre o tema pode ser encontrada na obra de Burke (BURKE, Peter. Testemunha Ocular: história e imagem. Bauru, São Paulo: EDUSC, 2004: 175-211). Sobre a noção de “narrativas audiovisuais” pode-se consultar, além de Burke, Ferro (FERRO, Marc. Cinema e História. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2010) e Abdala Jr (História e narrativas audiovisuais, Ed. Fi, 2020. No prelo) entre muitos outros. 
[2] Talvez fosse mais apropriado falar em letramento cinematográfico ou cinemático, mas, preferi manter assim para não ampliar muito termos e denominações.
[3] O argumento é que a necessidade humana de sobreviver no ambiente hostil das floresta e diante de evidente fragilidade da espécie, desenvolvemos muito a capacidade de “interpretar” os indícios que nossa observação do ambiente, sobretudo visual, podia apreender. A ideia é um desdobramento da reflexão, proposta por Ginzburg para explicar o “paradigma indiciário”, análogo à semiótica médica, empregado por historiadores da arte. (GINZBURG, Carlo. Sinais. In: Mitos, Emblemas e Sinais. São Paulo: Cia das Letras, 1989, p.143-179) 

LETRAMENTO AUDIOVISUAL 1 / HISTÓRIA DO CINEMA: uma introdução

Cineclube completa sua 300ª exibição neste sábado

Existem muitas possibilidades de conhecer a história do cinema. Na internet  é muito fácil de encontrá-las, em textos, em blogs, em videos. 

Mas, há outra forma muito interessante: por meio de filmes, documentários, ou até ficção. 

Um filme ótimo para se deleitar com cinema de primeira qualidade que é, ao mesmo tempo, uma  homenagem ao início do cinema de ficção é: A invenção de Hugo Cabret (Hugo,EUA, 2011). 

O filme foi dirigido por Martin Scorsese


Para ler sobre:

Vikipédia 

O cinema reinventando a escola – Um diálogo da Educomunicação com o filme A invenção de Hugo Cabret / The cinema reinventing the school – A dialogue between Educommunication and the movie Hugo


Claudia Mogadouro








LETRAMENTO AUDIOVISUAL 2

Caverna de Lascaux, França. Foto: Everett - Art / Shutterstock.com
Caverna de Lascaux, França. Foto: Everett -
Art / Shutterstock.com
A formação básica para o trabalho do professor/pesquisador com obras que empregam linguagem audiovisual pode ser realizada de maneiras muito distintas. Assistir a filmes, sobretudo os clássicos, nacionais e internacionais, é o primeiro passo de um letramento. Mas, isso não basta; é, igualmente, importante ter um conhecimento básico sobre história e teorias do cinema.

Alguns aspectos dos filmes e/ou do cinema são destacados nessas histórias, como os processos de invenção/construção das narrativas (montagem, posição e movimento de câmera etc.), ou os avanços técnicos (cor, som, profundidade etc.) operados ao longo do tempo. 

Os primeiros filmes eram exibidos em feiras de vaudeville, entre atrações de circo, shows de mágicas e peças de teatro. Nesse sentido, é que o cinema deve ser considerado como manifestação sociocultural e estudado como fenômeno artístico moderno e urbano - ainda que a análise nem sempre contemple todos esses elementos - e cuja realização depende, tanto de elementos técnicos quanto estéticos. 

Na produção cinematográfica estão presentes, então, muitos elementos da cultura popular e erudita; da ópera e da literatura; da pintura rupestre ou renascentista até a fotografia; do ritual e outras cerimônias festivas ao divã do psicanalista. Todos esses aspectos evidenciam os motivos que fazem do cinema uma arte tão presente e desafiadora, mas, sobretudo, tão monumental.

Imagem e informação acima: http://tudosobrecienciatecnologia.blogspot.com/2018/03/arte-rupestrea-mais-antiga.html

LETRAMENTO AUDIOVISUAL 3


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Outro filme muito interessante para conhecer os meandros de uma produção cimatográfica é Saneamento Básico (Jorge Furtado, 2007).







Sinopse e detalhes (Adoro cinema): 

"Os moradores de Linha Cristal, uma pequena vila de descendentes de colonos italianos localizada na serra gaúcha, reúnem-se para tomar providências a respeito da construção de uma fossa para o tratamento do esgoto. 

Eles elegem uma comissão, que é responsável por fazer o pedido junto à sub-prefeitura. A secretária da prefeitura reconhece a necessidade da obra, mas informa que não terá verba para realizá-la até o final do ano. Entretanto, a prefeitura dispõe de quase R$ 10 mil para a produção de um vídeo. Este dinheiro foi dado pelo governo federal e, se não for usado, será devolvido em breve. 

Surge então a ideia de usar a quantia para realizar a obra e rodar um vídeo sobre a própria obra, que teria o apoio da prefeitura. Porém a retirada da quantia depende da apresentação de um roteiro e de um projeto do vídeo, além de haver a exigência que ele seja de ficção. 

Desta forma os moradores se reúnem para elaborar um filme, que seria estrelado por um mostro que vive nas obras de construção de uma fossa."


Link para Filme: Saneamento Básico  https://www.youtube.com/watch?v=SuoYkKP_hVA 

ESCOLHENDO/SUGERINDO FILMES I


A respeito da escolha dos filmes e como eles podem colaborar com o ensino/aprendizado da história/História, muito pouco se tem debatido a respeito. A ausência de debate naturaliza o "senso comum" que se estende da crença de que o filme "é verdade" - ficção e/ou documentário, até o limite da ideia de que não é necessário criticar todos os elementos que o filme apresenta com relação a realidade que ele pretende dar a ver.

 

A prática consiste em erro sério para todo tipo de obra da cultura, mas que se agrava no caso de filmes. Afinal, o cinema lida, virtualmente, com representações que visam, exatamente, a criação de uma “impressão de realidade” para o público. Se a primeira abordagem de um filme amplia esta pretensão, ao não submeter o processo de seleção a uma crítica mais severa, todo o trabalho posterior fica comprometido.

 

Inicialmente, é fundamental reconhecer que os filmes não precisam ter como foco ou objeto de reflexão os temas ligados aos conteúdos de qualquer disciplina. Não! Ao contrário do que se “acredita”, os filmes sempre podem sugerir muitas questões e/ou temas (, inclusive) históricos. Mesmo que não esteja entre as pretensões dos realizadores tratar, deliberadamente, de história/História ou de outras áreas  – o que é legitimo, uma vez que cinema é, também, entretenimento – um filme sempre pode ser objeto de análise por parte de um pesquisador e/ou professor.

 

Assim como as demais manifestações da cultura, qualquer filme pode ser interrogado academicamente, pode ser investigado por um pesquisador/professor das Ciências Humanas. Há, certamente, necessidade de formação na área da pesquisa pretendida e, também, que o pesquisador domine um aparato de teorias e métodos para realizar a investigação.

terça-feira, 30 de junho de 2020

ESCOLHENDO/SUGERINDO FILMES II

No caso da História, importa que o uso desse aparato permita que as questões históricas nele “reveladas” sejam objeto de estudo. Aliás, esse foi o argumento defendido por Marc Ferro quando concebeu os filmes como fonte histórica.[1] Acrescente-se que um filme, pelas características que o cinema apresenta, pode abordar com tanta expertise algum tema que ele acaba, inclusive, antecipando questões históricas, sociológicas, antropológicas etc.


Representação de Chica / Crédito: Wikimedia Commons

Representação de Chica / Créditos Wikimedia Commonshttps://www.geledes.org.br/wp-content/uploads/2009/06/chica-da-silva-1.jpg


Filmes, muitas vezes, escolhem temas pouco visitados ou desconcertantes para a sociedades; ou, melhor ainda, formulam abordagens que inovam nos métodos para se aproximar deles. Nalguns casos podem inovar até mesmo quanto à temática, à questão formulada ou ao modo de refletir sobre os problemas.

Os exemplos dessas possibilidades são muitos, como o filme Xica da Silva (1976) de Cacá Diegues.[2] Observe-se que os debates sobre negritude e gênero no contexto do Brasil contemporâneo não estavam consolidados, tampouco pesquisas sobre os temas tinham a dimensão que têm atualmente. Diegues afirmou, em entrevista, que seu interesse pela personagem foi provocado pelo desfile da Grêmio Recreativo Escola de Samba Salgueiro (1963).[3]


Isabel Valença incorpora Xica da Silva, no desfile do Salgueiro em 1965 sobre a História do Carnaval Carioca. Ver em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Isabel_Valen%C3%A7a#/media/Ficheiro:Acad%C3%AAmicos_do_Salgueiro,_1965_(3).jpg 

O primeiro registro escrito sobre a história de Chica da Silva pode ser encontrado “no livro Memórias do Distrito Diamantino, de 1868. Foi seu autor, o advogado Joaquim Felício dos Santos”[4] que também inspirou a telenovela da Rede Manchete Xica da Silva[5] e o documentário A Rainha das Américas que também aborda a personagem histórica que foi uma mulher negra escravizada do interior do Brasil.


Cartaz do filme Xica da Silva de Cacá Diegues (1976); Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Xica_da_Silva_(filme)#/media/Ficheiro:Xica_da_Silva.jpg


Observe-se como a simples historicização de uma personagem e/ou obras cujo tema é o mesmo – no caso, uma personagem – permitem identificar os diálogos mais explícitos que são operados na cultura ao longo do tempo. Um breve estudo ainda pode indicar como esses “diálogos” são “facilmente apreendidos” e que até poderiam ser considerados um tema inscrito em processo de longa duração. O exemplo do filme Xica da Silva serve para ilustrar a dimensão e o espectro com o qual o cinema permite trabalhar, seja na sala de aula ou na biblioteca.

Mas, também pode ocorrer que a forma de tratar algumas questões sejam tão elucidativas ou até mais que outras formas de abordagem. Alguns exemplos nos ajudam a pensar a respeito do assunto. Vamos a eles, aos filmes.



[1] FERRO, Marc. "O filme: uma contra-análise da sociedade?" In: LE GOFF, Jacques & NORA, Pierre (Org). História: novos objetos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1979, pp. 199-213.

[2] Sobre o tema, consultar: http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2016/07/a-escrava-que-virou-rainha-documentario-e-livros-revivem-historia-da-brasileira-que-rompeu-padroes-do-seculo-18.html  

[3] Sobre o tema consultar o sítio da Escola de Samba do Salgueiro (http://www.salgueiro.com.br/anos-60/) e ainda dois canais no Youtube com imagens-movimento de época: https://www.youtube.com/watch?v=TCDQv7oDx40 , https://www.youtube.com/watch?v=LDR6wGZepQc

[4] Citação anterior de O Globo. Veja também uma opinião mais qualificada -de  uma pesquisadora - sobre essa grande personagem personagem em: https://www.geledes.org.br/pesquisa-contesta-mito-de-chica-da-silva/

[5] Xica da Silva é uma telenovela brasileira produzida e exibida pela Rede Manchete entre 17 de setembro de 1996 a 11 de agosto de 1997, Escrita por Walcyr Carrasco. Ver mais em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Xica_da_Silva_(telenovela)

segunda-feira, 1 de junho de 2020

MUSEUS, SÍTIOS, PÁGINAS PARA PESQUISA, DICAS, SUGESTÕES ETC.Sempre sendo atualizado


Um sitio muito bom para educadores e outros é
VEDEO CAMP 




Caliban produções cinematográficas 


UNIVERSIDADE DE COIMBRA © 2018
ARQUIVO GERAL DE ARQUIVOS E SITIOS INTERNACIONAIS

https://www.uc.pt/fluc/artisticos/ligacoes/cinema1



Federação Internacional de Arquivos de Filmes


https://www.fiafnet.org/pages/E-Resources/Film-AV-Collections-Online.html?fbclid=IwAR0XcoNvKjSoAS7BlA9pog19nSiqi5l5VI6w6q5kbeZ9LZm5Q5EAAipDwxk


ACERVO DE HISTÓRIA 

(Muito mais...)

Arquivos digitais: AMERICAN FILM INSTITUTE





FILMES BRASILEIROS

https://acasadevidro.com/2015/08/18/50-obras-primas-do-cinema-brasileiro-para-assistir-on-line-filmes-completos-a-casa-de-vidro-com/



International Association for Audio-Visual Media in Historical Research and Education


http://worldcat.org/identities/lccn-n80093763/



Historical Journal of Film, Radio and Television

https://duotrope.com/listing/20115/historical-journal-film-radio-television



UCLA FILMS AND TELEVISION ARCHIVES 
https://www.cinema.ucla.edu/



LA CINÈMATHÈQUE FRANÇAISE
https://www.cinematheque.fr/



The International Association for Media and History

http://iamhist.net/


CINEMATECA DE MILANO

https://www.cinetecamilano.it/



FILMHISTORIA Online

https://revistes.ub.edu/index.php/filmhistoria


Cinema Latino  


https://www.filminlatino.mx/



CALIBAN: CINEMA CONTEÚDO







sábado, 30 de maio de 2020

INTERPRETANDO O CINEMA

Após uma pequena prática de letramento audiovisual, chegou a hora de lidar como nossos objetos de estudo: os filmes.  Mas, antes falemos um pouco mais do significado de “letramento audiovisual”. Sabemos que os seres humanos lidam com imagens desde muito cedo – veja nas postagens anteriores e em Ginzburg (1989)[1] – o que chamo de letramento não passa de um processo de objetivação de práticas antropológicas, ou seja, continuar a fazer o que fazemos desde sempre, mas agora, desnaturalizando o processo.

A atitude analítica não cessará mais, pois, de agora em diante, todas as vezes que você se deparar com imagens e/ou imagens-movimento elas se converterão em algo que demanda análise e explicação, de forma a evitar que se tornem “naturais”.  Teoricamente, você passa a concebê-las como “representação” da realidade(s), e dessa forma, deixam de dar ilusão de serem o ou um real, ganhando status de algo que foi mediado pelo significado que a cultura lhe atribui.

Bakhtin explica esses diálogos que a literatura trava com essa realidade – ou o que ele chama de contexto “não verbais” – ele cita uma passagem de Dostoiévski na qual o personagem diz algo como: “o inverno...”. Não é difícil pensar que esse inverno tem significado distinto se for dito por um nordestino, pois isso é sinal de chuva, verde, fartura, ao contrário do que seria para um russo.

Observe que o processo de letramento não se encerra numa análise rápida. O que fica evidente é que há muito mais a ser feito. Mas, o que virá daqui em diante demanda uma teoria, um conjunto de ferramentas teóricas que permita o desmonte das estratégias que orientaram as produções dessas realidades representadas e, para além disso, quais as intenções que sua fabricação visava a alcançar.

Merece atenção o fato de que não vamos tentar invadir as mentes dos seres humanos que realizaram o filme, mas, ao contrário, basear nossa investigação naquilo que as próprias obras e no que seus realizadores nos revelam sobre o mundo que representam. Afinal, nem obras nem humanos estão descolados da cultura. Todos “habitam”, como os personagens dos filmes, um universo material e simbólico que confere significado ao mundo “audiovisual” que foi reunido para “fabricar” o filme.

 

 



[1] Não devemos esquecer outros campo de conhecimento que, de forma distinta, também argumentam a respeito da prática antropológica de lidar com imagens, como psicologia da percepção, semiótica da imagem, psicanálise, citando algumas.