Algumas premissas contribuem
para que possamos avançar nas análise das narrativas audiovisuais. A intenção é
estabelecer uma relação mais “racional”, mais crítica com filmes e as demais
formas de manifestação da cultura. A finalidade não é evitar uma submissão aos
diversos “dispositivos” empregados pelas artes do espetáculo, mas reconhecê-los
e refletir sobre eles. A diferença entre três situações de "audiência" – como pode ser chamada – é muito tênue.
A primeira, pode ser definida como ingênua e sugere que o analista se submeta, deliberadamente, aos apelos da obra para, somente depois, pensar a seu respeito, a partir de repertórios sobre o tema, prévios e/ou posteriores. Sendo a obra reconhecida como detendo méritos por especialistas, isso é quase uma exigência a ser cumprida. A submissão é, inclusive, importante para a análise. Nesse sentido, sempre sugiro aos meus alunos que não leiam qualquer análise sobre as obra antes de a estudarem somente com o repertório que já detém, para depois avançarem nas leituras.
A primeira, pode ser definida como ingênua e sugere que o analista se submeta, deliberadamente, aos apelos da obra para, somente depois, pensar a seu respeito, a partir de repertórios sobre o tema, prévios e/ou posteriores. Sendo a obra reconhecida como detendo méritos por especialistas, isso é quase uma exigência a ser cumprida. A submissão é, inclusive, importante para a análise. Nesse sentido, sempre sugiro aos meus alunos que não leiam qualquer análise sobre as obra antes de a estudarem somente com o repertório que já detém, para depois avançarem nas leituras.
A segunda posição é a crítica,
segundo a qual é imprescindível avaliar o máximo possível os dispositivos
empregados pelos realizadores para que as obras alcancem seus objetivos em
relação ao público. Nesse caso é preciso recorrer a uma assistência mais
racional, marcada por um distanciamento analítico, atentando-se aos
detalhes, à interpelação que as obras fazem aos repertórios prévios do público,
aos clichês etc. – isso ficará mais claro em seguida. Nesse caso, é importante que
se tenha um conhecimento prévio sobre o tema, conforme ele vem sendo abordado
na sociedade e época, bem como buscar ampliar ao conhecimento posteriormente. A
busca de informações incluem a leitura de resenhas sobre a obra em foco, todos
os elementos da produção, especialmente roteiristas, atores etc.
A terceira é aquela mais sofisticada, e
pode ser chamada especializada. A assistência requer escolhas temáticas
bem definidas, a fim de que a análise obedeça a algumas diretrizes e não
outras. Aqui a obra é que submete aos interesses dos analistas e deve ser orientada
por uma “erudição” – um conhecimento bem construído sobre o tema a ser
abordado, sobre todos os elementos da produção e da sociedade onde emergiu a
obra – alimentado por questões bem colocadas – no sentido que questões
que possam ser respondidas pela obra e que contribuam para destrinchá-la sob viés
que interessa ao analista. Há a necessidade de um conhecimento mais sofisticado
sobre arte, cinema e/outras formas de expressão análogas, como da linguagem cinematográfica
também.
Há que se reconhecer que
essas indicações são “didáticas” e não ocorrem, realmente, de forma distinta.
Muito pelo contrário, elas são operadas nas diversas vezes em que assistimos
as obras a fim de refletirmos sobre elas – outra exigência metodológica.
Mas, é importante ter claro que uma narrativa audiovisual guarda uma infinidade
monumental de aspectos a serem analisados, de forma que é, virtualmente,
impossível abordar todos eles. Sob um ponto de vista metodológico, o melhor que
se pode fazer é realizar uma descrição densa.
As possibilidades de abordagem
antropológica de obras de arte, tomando-as como expressões próprias de uma determinada
cultura e época, além de uma reflexão mais pontuada sobre como realizá-la podem
ser encontradas na obra do antropólogo Clifford Geertz (1989),[1] e do historiador Carlo Ginzburg[2].
Visto isso, vamos aos filmes.
[2]
GINZBURG, Carlo. Sinais. In: Mitos,
Emblemas e Sinais. São Paulo: Cia das Letras, 1989, p.143-179.
Nenhum comentário:
Postar um comentário